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quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Pensando Bem - Resposta Certa


- E aí, cara? Nossa, faz tanto tempo que não te vejo! Como você tá?
Esse homem do passado, que acabo de reencontrar, faz-me essa pergunta, como é esperado em situações como essa. Minha mente, no entanto, gira.
Sinceramente? Não faço a menor ideia. Estou numa esquina estranha da vida, num daqueles momentos verdadeiramente agridoces. Sinto-me como um campeão de uma modalidade esportiva a quem foi negado o troféu.

Aliás, é como se um homem de estatura mediana, barriga protuberante e cabelo escasso, vestindo um terno desalinhado, tivesse vindo até mim enquanto eu comemorava minha vitória, colocado a mão no meu ombro e me dito: “Sabe o seu troféu? Então, senta ali naquele banco que ele vai demorar um pouco a sair, a situação tá meio complicada.” Eu teria perguntado quando, então, se não seria possível agora, eu teria meu espólio em mãos, ao que o cara me responderia: “Olha, eu não sei. Só senta ali e espera, já ele chega”.
O problema, que é meu e de toda a sociedade, é que não quero esperar. Eu não posso, nenhum de nós. Queremos conquistar o mundo numa jogada, ansiamos para que a Terra evolua ao nosso cenário idealizado num piscar de olhos.
Sabemos todos, entretanto, que não é assim que as coisas funcionam. Nós somos alegrados, somos surpreendidos, e imediatamente esperamos que tudo se resolva. Mas aí vêm as condições, a burocracia do destino, e ficamos reféns de uma ansiedade claustrofóbica, contando os minutos para que chegue a glória que nos foi premeditada.
Bem, talvez não faça sentido, mas assim me está acontecendo. Então eu me sento aqui nesse banco e fico sentindo o mundo rodar enquanto espero. As pessoas passam e se perguntar por que diabos estou eu parado enquanto elas são forçadas a andar, e praguejam, e me chamam sortudo.
Só queria poder me levantar.
Penso em tudo isso e depois lanço a mim mesmo uma represália raivosa. Como ouso reclamar de minha espera patética? Como ouso enunciar que tenho problemas, que não estou bem? Agora mesmo há pessoas, em múltiplos pontos do planeta, vivendo o verdadeiro inferno, sendo escravizadas, literal e figuradamente, nas fábricas enormes da máquina do capitalismo. Sofrendo com as correntes ditatoriais de uma sociedade que lhes apontou o dedo e lhes predestinou a debulhar-se em suor e lágrimas todos os dias, mas ainda assim não ter o direito a um respiro sequer de felicidade.
Como posso eu, frente a essas mazelas, não me ajoelhar e agradecer a quem possa ouvir pela oportunidade de estar preso naquela espera enfadonha?
É evidente, todavia, que meu interrogador não quer ouvir essa resposta. Ele não se importa. Ninguém se importa. As pessoas gostam do simplismo, da condescendência, de nadar no marasmo de respostas pré-moldadas e monossilábicas. Faz a vida parecer algo mais palpável, mais compreensível.
Nós queremos que a vida tenha uma beleza tradicional, que se encaixe nos padrões que impomos a nós mesmos. O que não enxergamos é que é justamente na inconstância, na ausência de padrões, que o viver se torna belo.
Levando tudo isso em conta, respondo, resignado:
- Vou bem. Muito bem, na verdade. E com você, tudo certo também?
E, é claro, não espero nem gostaria de ouvir nada além de sim.

4 comentários:

  1. Oi,
    Realmente a maioria das pessoas só perguntam se tá tudo bem pq vai no automático!
    Bjs!
    Viciados Pela Leitura

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  2. Oi Caio!

    Adoro seus textos, é muito reflexivo! Me peguei por diversos momentos me questionando. As vezes coisas acontecem com a gente tão rápido que não da tempo de refletir, com o seu texto me vi em diversos momentos.

    Adorei!
    Bjs

    Cintia
    http://www.theniceage.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi, Cintia!
      Fico feliz que tenha gostado e conseguido refletir através do texto, esse é exatamente o motivo da minha coluna aqui no blog.
      Abraços! :)

      Excluir

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