Cinder - Marissa Meyer

Pois é, gente, estava há um bom tempo sem postar resenhas devido à falta de tempo e de leituras que se adequem ao perfil do blog, mas hoje eu vim falar pra vocês sobre o primeiro livro de uma quadrilogia que promete: "Cinder", escrito por Marissa Meyer (que não tem nenhum parentesco com a autora de "Crepúsculo", que eu saiba).




Editora: Square Fish (US)/ Rocco (BR)
Páginas: 448
Sinopse: Num mundo dividido entre humanos e ciborgues, Cinder é uma cidadã de segunda classe. Com um passado misterioso, esta princesa criada como gata borralheira vive humilhada pela sua madrasta e é considerada culpada pela doença de sua meia-irmã. Mas quando seu caminho se cruza com o do charmoso príncipe Kai, ela acaba se vendo no meio de uma batalha intergaláctica, e de um romance proibido, neste misto de conto de fadas com ficção distópica. Primeiro volume da série As Crônicas Lunares, Cinder une elementos clássicos e ação eletrizante, num universo futurístico primorosamente construído.






Nota: apesar de a história estar mais para um sci-fi rechado de elementos distópicos, me refiro a ela como distopia para facilitar os comentários que gostaria de fazer.

Após a Quarta Guerra Mundial, a Terra encontra-se bem diferente daquela em que vivemos. Politicamente, divide-se em seis Estados diferentes, cada um deles regido por um sistema distinto (monarquia, parlamentarismo, república), mas que têm um claro objetivo em comum: manter a paz entre si. Dentre estes, há a Comunidade, que seria basicamente uma junção dos vários países asiáticos hoje conhecidos, com o acréscimo de alguns elementos culturais ocidentais. É nesse lugar que habita a protagonista da história: Cinder, uma ciborgue adolescente que trabalha como mecânica em Nova Pequim.

Cinder vive com Adri, sua guardiã legal e ex-mulher do cientista que a adotou após sua misteriosa cirurgia aos onze anos, e as duas filhas da mulher: Pearl e Peony. Seu trabalho como mecânica sustenta toda a família, e mesmo assim o tratamento que ela recebe está longe de ser considerado satisfatório. Os alívios cômicos de sua vida (e da narrativa) estão centrados principalmente em sua androide, Iko, que tem a personalidade mais cativante que a de muitos humanos.

Cansado de contextualização? Bom, só há mais duas coisas a saber: a Lua é habitada e sua população é governada pela tirana Rainha Levana, com quem a Terra luta há anos para assinar um acordo de paz, sem sucesso; há uma doença fatal assolando os terráqueos há mais de uma década: a letumose, extremamente contagiosa e, até o presente momento, sem cura.

A história começa quando se cruzam os caminhos de Cinder e do Príncipe Kai, herdeiro da Comunidade: ele quer que a garota conserte um dos androides do Palácio. A partir desse encontro, e de acontecimentos envolvendo a praga da letumose, a ciborgue é lançada em meio ao jogo político da Comunidade e de toda a Terra, e acaba descobrindo mais sobre ela mesma e os que a cercam do que jamais sonhara ser verdade. Soa meio obscuro, eu sei, mas acredite: é melhor começar o livro sem saber muito dos acontecimentos propriamente ditos.

Ah, e, caso você não tenha percebido, esse romance é um reconto da história da Cinderela.

Este livro atendeu, na maior parte, as minhas expectativas, que não eram nada baixas, e até as superou em alguns pontos. Eu comecei a leitura com um pé atrás, visto que tive recentemente uma grande decepção com uma série aclamada pelos reviwers em geral, mas, logo no início,  o receio se esvaiu e mergulhei nesse mundo intrigante.

Apesar de não ter inventado a roda, Marissa Meyer fez um trabalho exepcional na construção do universo de sua obra, quiçá o melhor dentre as distopias YA que eu já tive a oportunidade de ler. Em uma época em que se presencia uma onda de distopias que não têm o menor cuidado ao desenvolver o pano de fundo de suas histórias, a autora mostrou, já no romance de estreia, uma atenção bem-vinda ao quesito em questão, que ajuda, sem dúvidas, na imersão do leitor.

Os personagens também são muito bem construídos, e não consigo apontar um sequer que eu ache que foi mal explorado. Claro, levando em conta que este é o primeiro livro de uma série de quatro, ainda há muitas páginas para aprofundar a história de cada integrante da narrativa.

A escrita de Meyer foi, para mim, a maior surpresa do livro. Frases muito bem colocadas, palavras certas nas horas certas e uma delicadeza impressionante na hora de descrever fazem da leitura extremamente agradável.

O enredo do romance também é bem construído: há algo inusitado acontecendo a todo momento. A história nunca perde o fôlego, mas também não exagera ao pisar no acelerador. O ritmo é crescente, culminando em um clímax sensacional. Não imaginava que iria torcer tanto por Cinder como torci, nem me indignar tanto quando as coisas davam errado.

Sobre o enredo, no entanto, devo comentar que aí se encontra, para mim, a única falha da história. Há um mistério que perdura pelo livro todo, cuja solução, pelo menos para mim, era óbvia desde o princípio. A revelação de fato só acontece, todavia, nas últimas páginas, o que me irritou um pouco, já que eu detesto antever essas reviravoltas. Eu entendo que era essencial para o desenrolar dos fatos que as respostas só chegassem naquele momento, mas precisava ter entregado tanto assim o ouro no começo, Dona Meyer?

Tendo passado por todos esses pontos, acho que minha opinião está nítida: Cinder não é qualquer livro, e Marissa Meyer não é só mais uma doida que pegou carona na onda de distopias YA com um romance meia-boca. O livro é bom de verdade: tem ação, romance, humor, reviravoltas e, como toda boa distopia deve ter, questionamentos sociais e éticos bem elaborados considerando o público-alvo da história.

Apesar de, por enquanto, não ser uma das minhas histórias preferidas de todo o sempre, recomendo muitíssimo a leitura e estou mais que curioso para cravar minhas garras no segundo volume de As Crônicas Lunares.