Pensando Bem - A Baía Pirata

Todos estamos bem cientes do processo de avanço superacelerado dos meios de comunicação que o mundo tem vivido durante as últimas décadas. Isso traz a mudança da forma como vivemos, e muitas coisas vêm sido postas de xeque. Algumas estruturas foram dilaceradas pelo progresso destes últimos tempos, e ainda não conseguiram se reorganizar plenamente. Um exemplo claro é a indústria do entretenimento, que viu seus exorbitantes lucros diminuírem um pouco sua magnitude. Não é preciso dizer que não estão nada felizes com isso.

Acima de todas as inovações, a criação e ampliação progressiva da internet foi a que mais diretamente atingiu o mercado do entretenimento. Gravadoras, emissoras de TV e produtoras de cinema estão tendo que lidar com os downloads ilegais e os temidos vazamentos. Esse grupo tem se irritado cada vez mais, acusando os pirateadores de desrespeito pela arte. Mas até onde vai a paixão dessas pessoas pela produção cultural e onde começa o desejo pelo lucro?

Sobre os vazamentos, exemplos claros são a cantora Madonna e a emissora HBO. No fim do ano passado, Madonna teve vazadas inúmeras demos (versões não finalizadas) de seu CD - que nem tinha sido oficialmente anunciado. Para amenizar a situação, a Rainha do Pop liberou uma prévia de seis faixas do álbum para download pago no iTunes. Dias depois, vazava na rede a versão SuperDeluxe, com 25 músicas finalizadas. Resultado: "Rebel Heart", o décimo terceiro álbum da cantora, foi o menos vendido de toda a sua carreira após o lançamento oficial em março de 2015.

Mais recentemente, a HBO viu caírem na rede os quatro primeiros episódios da quinta temporada de sua série de maior sucesso, Game Of Thrones, um dia antes da estreia do primeiro. Logo em seguida, o quinto episódio chegava à internet. Até o momento, acredita-se que o vazamento tenha ocorrido a partir de cópias adiantadas enviadas para a imprensa, mas há uma investigação em curso.

Claro que, diante desse quadro, surgiram respostas que  se tornaram populares. O Netflix, por exemplo, permite o acesso a um acervo de séries e filmes online por uma taxa fixa mensal. Na música, um serviço semelhante é o Spotify. Alguns canais - como a própria HBO - já disponibilizam seus acervos em forma de streaming online.

Nas últimas semanas, aliás, o rapper e empresário Jay-Z anunciou um serviço que até então é interpretado como concorrente do Spotify: o Tidal. Apesar de tudo ter ficado um pouco confuso, o que está havendo é que Jay-Z fechou contratos obscuros com celebridades como Nicki Minaj, Beyoncé (obviamente), a própria Madonna e Rihanna, esta que já divulgou um clipe com exclusividade pela plataforma, irritando os fãs não assinantes. Parece ser essa a estratégia do magnata: monopolizar o meio e coagir todos a assinarem seu serviço. Tudo pelo amor à arte.

A meu ver, o que está acontecendo é um processo de adaptação. Lentamente, os artistas estão descobrindo que o povo agora tem a escolha de adquirir facilmente seus produtos sem lhes dar nenhum centavo caso os preços sejam muito altos. As pessoas, por outro lado, podem acabar percebendo que provocar vazamentos pode sabotar a indústria com a qual elas enchem seus cérebros. Ambos os lados precisarão ceder, e assim encontrar um novo equilíbrio.

O que não pode acontecer é que esse momento de desarticulação seja utilizado por pessoas de influência como alavanca para controlarem - mais do que já o fazem - o mundo a nossa volta: o que ouvimos, assistimos, consumimos. Afinal, o legado mais valioso que a revolução nos meios de comunicação nos deixou foi a relativa liberdade. Não nos devemos deixar ser usurpados por tais oportunistas, logo eles que tanto possuem.
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P.S.: Espero que tenham gostado desse modelo de texto. Como eu disse, estou experimentando novos formatos. ;)