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quarta-feira, 25 de março de 2015

Pensando Bem - Diálogos #1


Diante de meus olhos, ela virou a caneca de café quente em poucos segundos.

- Não queria ser a sua garganta nesse momento - comentei.

Ela levantou o olhar do líquido que não estava mais lá, um sorriso timidamente posicionado nos lábios.

- O mais engraçado é que não faz mais efeito nenhum em mim. - Miriam soltou a xícara e passou os braços ao redor do próprio corpo, protegendo-se de um dos raros dias frios daquele lugar. - O café.

Olhei bem para aquela mulher, para a lanchonete em que nos encontrávamos, para os carros que realizavam, na rua, sua dança veloz. Minha acompanhante pareceu notar que eu estava prestes a explodir, dada a preocupação que, instantaneamente, estampava-lhe o rosto.

Interpretei aquilo como um sinal verde para despejar meus tormentos sobre ela.

- Sabe, Miriam, eu tenho andado desacreditado. Te chamei aqui, confesso, porque você é uma das únicas amigas que me resta. As pessoas têm se afastado cada vez mais de mim. Se você estiver se perguntando o porquê, te digo que também não sei, mas tenho algumas desconfianças. Acho que, nos últimos tempos, eu simplesmente não tenho feito o esforço que antes fazia para mantê-las por perto. E isso por um só motivo: me vejo cada vez mais desconectado do que me rodeia. Eu olho para toda essa confusão em que vivemos e me sobe um calafrio pela espinha. Além do que, cada vez menos sinto que as pessoas me compreendem quando eu falo. Não me escutam, sabe? Até ouvem, mas não escutam. Não sei o que está acontecendo. É como se, de repente, meu espírito tivesse entrado em um trem que vai para bem longe daqui, mas se esquecido de levar junto meu corpo. Noto nas pessoas com quem converso a preocupação de que eu talvez esteja louco, o clássico olhar de pena, como se eu fosse uma pobre alma por dizer tais coisas ou, mais frequentemente, a mais pura e simples confusão...

Meu fluxo tagarela foi interrompido quando reparei que descrevia a expressão de Miriam naquele momento. 

- Não sei se estou entendendo exatamente onde você quer chegar com isso tudo - a mulher atestou.

Subitamente, o café que eu não tinha bebido esquentou-me a garganta.



12 comentários:

  1. Oie Caio =)

    Ótimo texto! Parabéns ^^

    Beijos;***

    Ane Reis.
    mydearlibrary | Livros, divagações e outras histórias...
    @mydearlibrary


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  2. Oi, tudo joia?
    Adorei o texto, muito bom !!


    Beijos
    intoxicadosporlivros.blogspot.com.br

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  3. Ooi, como vai?
    Gostei muito do texto, o final foi interessante, haha :)
    Beijo.
    Choque Literário

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    1. Oi, Luiza, fico feliz que tenha gostado do texto.
      Abraços! :)

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  4. Olá, ótimo texto! Continue sempre escrevendo!
    Seu blog é uma fofura
    beijos

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    1. Olá, Luana! Obrigado pelo elogio e pelo incentivo.
      Abraços! :)

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  5. Respostas
    1. Oi, Brenda, que legal que você gostou, fique ligada nos próximos.
      Abraços! :)

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  6. Gostei de sua escrita, gostaria de ver mais. Tem uma pitadinha ácida muito interessante.
    Espero encontrar quem sabe o desenrolar desta mesma cena em post vindouros.

    Café com Letras

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    1. Obrigado pelos elogios, Andreza. Estou testando esse novo modelo de texto para a coluna, e por enquanto acho que vou continuar postando coisas parecidas sim. Quem sabe não aparece um dia desses uma continuação? haha
      Abraços! :)

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