Este é um daqueles dias em que eu não estou a fim.
O despertador do meu celular toca às cinco e cinquenta da manhã, e tudo o que eu quero é jogar aquele negócio do outro lado do Universo, mas não posso.
Porque não posso parar. Porque é assim que funciona. Porque é isso que somos.
Então, meio dormindo, meio acordado, eu me levanto e consigo a proeza de me arrumar. Logo estou a caminho da escola, já mais desperto que sonolento.
O restante da manhã eu passo sendo entulhado de conteúdo por todos os orifícios do meu corpo. Passam pela minha sala de aula cerca de trezentos e noventa e sete professores, e eles falam muitas coisas, coisas demais. Metade do que eu ouço não me atrai, não me terá serventia, e portanto logo tratarei de esquecer.
Em qualquer outro dia, eu me repreenderia por pensar assim. Todo conhecimento é uma ferramenta, eu diria a mim mesmo, e tentaria me convencer de que nosso sistema educacional não é tão furado assim. Mas não hoje. Hoje eu deixo estes pensamentos ácidos corroerem meu bom senso até sobrarem somente cinzas.
Apesar de tudo isso, eu aguento a enxurrada de termos e fórmulas, porque tenho plena consciência d'A Prova, aquele maldito exame que vou enfrentar no fim do ano e que vai definir a minha vida, a minha porta de entrada para o meio acadêmico, onde receberei as instruções finais de como ser um membro de nossa sociedade, uma pessoa.
Repito, uma pessoa - que fala, anda, sorri, se emociona, emite opinião. Mas não um indivíduo. Uma peça. Eu não estou sendo preparado para individualidades, mas para caber dentro de uma fôrma. Mesmo isso que eu estou fazendo agora, esse texto pretensioso, é tão batido e típico da pessoa que eu sou que me faz revirar os olhos pela falta de originalidade.
E então há as outras pessoas. Eu preciso vê-las, falar com elas, interagir, tentar fazê-las gostar de mim, porque é assim que deve ser. Em outro tipo de dia, eu me consideraria relativamente bom nisso, mas hoje sou péssimo. Hoje pessoas me dão preguiça, e quanto mais gostável eu tento ser, menos as Coisinhas parecem me ver de tal forma. Isso não é um discurso de autopiedade, não mesmo. Só estou ressaltando o quanto é chato esse jogo social.
Conforme o dia se arrasta, eu volto para casa e (quem diria) estudo mais um pouco. Afinal, como conseguir passar n'A Prova sem ser estudando até não conseguir discernir uma palavra da outra no papel, ou formular ideias concretas? Esgotamento, essa é a chave do sucesso.
E as pessoas (não indivíduos, e sim peças), claro, não param de aparecer. Elas brotam dos lugares mais inesperados, (inclusive da porcaria do celular, aquele objeto detestável sem o qual não consigo mais viver) e dizem as coisas mais idiotas possíveis. Em dias comuns, eu respiraria fundo, contaria até dez, e tentaria ser legal, mas esse é um daqueles dias em que eu simplesmente penso na resposta mais desagradável possível.
Quando eu finalmente termino de ler as notícias (poderia ter trocado as datas do jornal de semana passada e daria no mesmo), pego aquele livro que comecei há algumas semanas, esperançoso de que conseguirei fazer algum progresso. Então vejo que horas são: tarde demais.
Contrariado, deixo o livro de lado, não deixando de perceber como o marcador está no mesmo lugar há vários dias, aciono o alarme para as cinco e cinquenta da manhã do próximo dia, e mergulho num sono ingênuo que sei que em poucas horas será interrompido por aquele som estridente. Mas amanhã será outro dia, ainda bem.
Porque não posso parar.
Porque é assim que funciona.
Porque é isso que somos.
Quem me dera a soma não fosse apenas ficção, enquanto todo o resto é verdade.
Amo esses textos de reflexão ! Adorei o blog! <3
ResponderExcluirhttp://followyourdreamsdre.blogspot.com.br/
Oi, Andreina! Que bom que gostou do texto. Estou postando um desses por mês, não deixe de conferir.
ExcluirAbraços! :)
A gente não pode parar, principalmente de escrever!! Nunca pare!! A escrita cura de verdade!
ResponderExcluirBeijinhos,
Duda Kiame
www.ensaiopoetico.com/
Ei, Duda! Pois é, nesse dia eu estava bem estressado, e escrever esse texto me ajudou bastante a extravasar isso, embora ele seja super hiperbólico. haha
ExcluirAbraços! :)
"As pessoas me dão preguiça" nada criou mais identificação comigo que essa frase. Adorei o texto. Me sinto assim em muitos dias da semana. É angustiante e como você bem colocou, é cansativo.
ResponderExcluirParabéns pelo texto.
cafeecomletras.blogspot.com
Obrigado, Andreza! Realmente, esses dias são duros. O negócio é focar nos bons momentos que virão.
ExcluirAbraços! :)
A parte que mais gostei foi "As pessoas me dão preguiça" acho que me sinto assim muitas vezes ...Sou uma daquelas pessoas que tem raiva , nojo desses joguinhos sociais, entende ? Toda essa coisa montada, esse script que deve ser seguido , o modo da sociedade dizer o que você tem ser , seguir fazer ...
ResponderExcluirE isso que é o bom, reinventar, inovar, sair do mesmo. Entende por que ando cansada desse joguinho social? Ah, legal mesmo é falar, fazer e sentir o que der na telha. Agir livremente, sem ficar pensando em seguir um padrão só porque é assim que deve ser feito. Quero mesmo é fazer como eu bem entender, sem precisar ficar pesquisando sobre as minimas proezas a ser seguida . Senão é aquilo que todos gostam , não é o comum, que me aceite assim, ué! Tomara que existam pessoas que estejam cansadas como eu.
Isso mesmo, Tatiane, esse jogo social está mais que desgastado. Acho que seria tão mais proveitoso se pudéssemos nos ver livres disso, porque é algo que limita a todos e, até onde sei, não beneficia ninguém.
ExcluirPor mais que seja difícil, acho que temos que começar essa transformação por nós mesmos, parando um pouco de medir as palavras. Mas eu mesmo ainda não consigo fazer isso. hahaha
Abraços! :)
Olá Caio,
ResponderExcluirHá dias em que realmente a gente se sente assim: único no universo e que todo o resto se exploda. Não dá vontade de fazer nada, nem socializar, como vc expressou. No entanto, podemos fazer isso como indivíduo, mas não como parte de um todo. Muito boa sua reflexão.
um abraço,
Antonio Henrique Fernandes
www.navioerrante.blogspot.com.br
Oi, Antônio. Que bom que gostou do texto. Infelizmente esses dias existem, então acho que devemos continuar firmes, sempre tentando ser o mais livres dentro do possível.
ExcluirAbraços! :)
Show, show e show! ADOREI! Nahim...quem nunca? Também já tive essa vontade, mas querer não é poder.
ResponderExcluirBeijos,
Monólogo de Julieta
Muito obrigado, Paloma! Sim, querer não é poder, a menos que se acredite na força do pensamento positivo, o que eu não consigo fazer. hehehe
ExcluirAbraços! :)
Olá!
ResponderExcluirÓtimo texto, motivação sempre! Nunca parar!
Beijos
http://estante-da-ale.blogspot.com.br/
Obrigado, Alessandra! Sim, apesar de tudo, devemos continuar firmes e fortes.
ExcluirAbraços!
Oi Caio!
ResponderExcluirAdorei o texto.
Nunca parar, Nunca desistir. Porque é assim que funciona. Porque é isso que funciona.
Me arrepiei!
Parabéns.
Beijos
Cintia
http://www.theniceage.blogspot.com.br/