Senhora- José de Alencar. Clássico da Literatura Brasileira

Editora: Martin Claret

Páginas: 238

Sinopse: Esta narrativa de José de Alencar trata da história de Aurélia Camargo, moça pobre do subúrbio do Rio de Janeiro que vivera no passado um forte romance com Fernando Seixas, que a trocou por  Adelaide Amaral em razão de um dote de 30 contos de reis. Agora Aurélia recebe uma herança de seu avô, tornando-se uma grande dama da corte do Rio de Janeiro e deixando todos a seus pés. Ela podia escolher casar-se com quem quisesse, mas em vez disso preferiu cobrar a divida de seu coração dilacerado pelo abandono de Fernando.

Aurélia pede a seu tutor que ofereça a Fernando um dote de 100 contos de réis, para que este se case com ela, sem ao menos saber de antemão que ela é a noiva. Fernando por sua vez aceita a proposta pois precisava do dinheiro para o casamento de sua irmã Nicota, uma vez que tudo quanto sua família tinha na poupança foi gasto por Fernando para bancar seus luxos, e seu nível social, que nunca passou de fachada.

Através de Senhora Alencar aborda temas como o efeito que o dinheiro exerce sobre as pessoas, as conseqüências do orgulho exacerbado  o desejo de vingança, amor e perdão. Descreve com muita propriedade os luxos e riquezas dos salões da corte do Rio de Janeiro, bem como as da alta sociedade da época.

Tenho muita paixão por esta obra, não só pela grandiosidade romancista e estética, como também pela forma como ele retrata a mulher em uma época onde os direitos destas eram escassos. Aurélia é uma mulher forte, a frente de seu tempo, em pleno século XIX e com apenas 19 anos e órfã, ela mostra-se plenamente capaz de governar sua própria vida. Ela é capaz de resistir aos seus sentimentos para chegar com evidente determinação a aquilo que deseja.

Já através de Fernando, Alencar relata a fraqueza do homem pelo dinheiro, a possibilidade de se comercializar os sentimentos, esse aspecto existia nos tempos de Senhora e dura até os dias atuais.

Senhora é a mais pura história de uma mulher que sendo escrava de um amor perdido, faz de escravo o objeto de seu amor.

Eu indicaria o livro pra aqueles que apreciam um bom clássico ou romance de época.

Trechos:

“Quem não se lembra de Aurélia Camargo, que atravessou o firmamento da corte como brilhante meteoro, e apagou-se de repente no meio do deslumbramento que produzira o seu fulgor?”

“__Não se recusam cem contos de réis, pensava ele, sem razão sólida, uma razão prática. O Seixas não a tem; pois não considero como tal essas palavras ocas de tráfico e mercado, que não passam de um disparate. Queria que me dissessem os senhores moralistas o que é esta vida senão uma quitanda? Desde que nasce um pobre diabo até que o leva a breca não faz outra coisa senão comprar e vender? Para nascer é preciso dinheiro, e para morrer ainda mais dinheiro. Os ricos alugam os seus capitais; os pobres alugam-se a si, enquanto não se vendem de uma vez, salvo o direito do estelionato.”

“Sei de uma moça... Se alguém escrevesse a sua história, diriam como o senhor: ‘É impossível! Esta mulher nunca existiu. ’ Entretanto eu a conheci.”

“Mal pensava Aurélia que o autor de Diva teria mais tarde a honra de receber indiretamente suas confidencias, e escrever também o romance da sua vida, a que ela fazia alusão.”

Sobre o autor e a obra:

“José de Alencar escreveu as páginas que todos lemos e que há de ler a geração futura...” Machado de Assis

 “Há efetivamente um heroísmo de virtude na altivez dessa mulher, que resiste a todas as seduções, aos impulsos da própria paixão, como ao arrebatamento dos sentidos.”

José de Alencar

Vídeo:

*Essa e uma cena da novela “Essas Mulheres”, exibida pela Record, que é uma compilação das obras de José de Alencar, Senhora, Diva e Luciola. Acho interessante a forma como as histórias foram entrelaçadas na trama, preservando o brilho e a originalidade de cada uma delas.