Uns dez anos atrás, eu, ainda criança, iniciei a leitura de Mau Começo, o primeiro livro de Desventuras em Série. Por algum motivo que se perdeu no tempo, não dei continuidade à leitura. Depois de muito tempo, surgiu uma oportunidade de comprar o box da série e, meio impulsionado pelo anúncio da adaptação da Netflix, meio querendo recuperar o tempo perdido e descobrir a jornada dos irmãos Baudelaire, acabei fazendo a compra. Passei, assim, o ano de 2016 lendo, nos raros intervalos que a faculdade me proporcionava, os treze livros que contam essa história. Agora, às vésperas da estreia da primeira temporada da adaptação em seriado feita pela Netflix, venho aqui compartilhar minhas impressões sobre o que li.
Primeiro queria explicar que o autor que consta nas capas dos livros, Lemony Snicket, é um pseudônimo de Daniel Handler. Mais que um simples pseudônimo, Snicket é um personagem da história, que vive no universo dos Baudelaire e conhece grande parte dos personagens "pessoalmente". O autor acaba se tornando mais um elemento ativo da narrativa, sendo essa uma das dinâmicas mais inteligentes e instigantes da série. Além disso, a real motivação do autor-personagem para contar essa história, que a princípio parece um mero interesse, só é revelada no final de todo o enredo, e é, talvez, a melhor reviravolta de todas. Por isso, vou me referir ao autor, pessoa que criou a história, neste texto, como Daniel Handler, e a Lemony Snicket como mais um dos personagens.


Aliás, há todo um conjunto de coisas diferentes sobre a série que se tornam constantes ao longo dela, coisas que constroem uma aura única que passa a fazer parte da definição do que seria "ler Desventuras em Série". Há, por exemplo, o fato de que o uso de uma palavra mais complexa vem quase sempre acompanhado de uma definição, mas não uma definição "de dicionário" e sim algo gráfico e associado ao contexto da cena que está sendo contada. Acredito que esse seja um recurso incrível para ensinar palavras às crianças. Além disso, há um jeito único de falar dos personagens, expressões que eles utilizam e que são exploradas e dissecadas no texto. Ainda há o fato de cada Baudelaire ter uma habilidade específica, e dessas habilidades deles serem sempre úteis para ajudá-los a escapar dos apuros em que se encontram. Aliás, é interessante observar como, ao longo da série, os irmãos vão se tornando mais experientes em enfrentar os perigos, numa evolução muito bem construída e que não se enquadra tão pacificamente naquela história de "jornada do herói" que já tanto conhecemos.

Encontramos, ainda, durante os livros, várias referências à literatura, ao cinema e a música, inseridas de forma engraçada e inteligente. As minhas favoritas são as que vêm nas falas aparentemente ininteligíveis de Sunny. Uma lista bem completa dessas referências pode ser encontrada (em inglês) aqui: Lemony Snicket's works
A série, é claro, não é perfeita. Acredito que o seu maior erro seria insistir demais nas fórmulas, às vezes, mas são momentos de exagero que se perdem em meio a tantos outros acertados. Essas repetições exageradas, no entanto, são compensadas pelo autor, que não perde uma oportunidade de subverter e brincar com as próprias fórmulas, principalmente nos últimos livros. Personagens de histórias anteriores retornam das maneiras mais inesperadas e conexões são feitas de modo a tornar o universo da série uma rede que realmente entretêm e imerge o leitor.
Apesar de toda a desgraça acontecendo - e te asseguro que não é pouca - existe um humor nesses livros que é inigualável. O autor cria uma dinâmica entre os personagens que produz situações e tiradas hilárias, às vezes em momentos terríveis. Queria fazer uma menção honrosa às personagens de Carmelita Spats e Esmé Squalor, que acho que são as que mais me fizeram rir.

Ainda sobre o final, por mais que eu goste de finais abertos, confesso que fiquei esperando por algumas respostas que não vieram, mas sei que o autor lançou vários spin-offs da série, então talvez essas respostas estejam contidas neles. Aliás, espero que estejam.
Desventuras em Série é, portanto, um conjunto de livros magnífico, que conta uma ótima história, levanta discussões pertinentes, tem referências inteligentes e possui a capacidade de aquecer e despedaçar na mesma medida o coração do leitor. Uma história que merece ser lida e que, por isso, recomendo a todos.
Torço para que a adaptação da Netflix, que estreará dia 13 de janeiro de 2017, honre essa história e também para que faça com que mais e mais pessoas cheguem a esses livros incríveis. No dia 20 de janeiro farei aqui uma postagem com as minhas impressões sobre os oito episódios da primeira temporada da série. Até lá!
OOi!
ResponderExcluirEu conheci primeiramente o filme, quando passava na TV. Amavaaa aquele filme, faz anos que o assisti pela última vez. Tenho vontade de ler os livros, mas confesso que não estou muita animada. Vou ver se assisto a série! :)
Beijoos!
Sabe que eu nunca tive uma real vontade de ler essa série? Não sei bem porque, mas sempre a vi como muito longe do meu estilo. E nem o filme me chamou tanto a atenção ou me fez olhar para os livros com outros olhos.
ResponderExcluirestou pensando em esse ano finalmente me render ao Netflix, então, quem sabe, assistir a série e talvez com ela surgir a vontade de conhecer a obra (mesmo achando bem interessante a ideia do autor, o fato de serem 13 livros e ainda ter um final meio aberto me deixa um pouco desanimada...).
Beijinhos,
Lica
Amores e Livros
Gente, eu sou doida pra ler todos os livros, mas a facada do box me deixa de coração partido, quebrado e perfurado com o valor. Confesso que vi apenas o filme e mesmo o pessoal gostando e desgostando, quero a leitura e saber o que acontece no final, a série eu vou sentar e assistir amanha nem que seja a ultima coisa que eu faça. Adorei o post, tu soube muito bem falar sem contar muito ou soltar spoilers, é algo que eu nunca consigo, me expressar dessa forma no caso. Parabéns!
ResponderExcluirhttp://k-secretmagic.blogspot.com.br/
Xoxo